É verdade: são 190 páginas e cerca de 40 mil palavras. Mesmo assim, os seus seis capítulos fluem bem. Não é uma leitura difícil.
Esta encíclica é ótima para uma leitura individual, mas ainda melhor para uma leitura coletiva, ou para uma discussão em grupo. Ler e discutir a encíclica em um grupo é exatamente a finalidade do documento, pois do início ao fim há chamadas para o diálogo.
Não há necessidade de as pessoas parar e esperar enquanto os bispos e pastores organizam uma resposta à encíclica. Qualquer um pode baixar o texto integral na internet, chamar os amigos e dizer: “Vamos ler e discutir a encíclica”. Qualquer um que participe de um clube de leitura poderá recomendar que a encíclica seja a próxima leitura.
O impacto desta encíclica vai ser significativo até mesmo fora da Igreja Católica. Ambientalistas e cientistas subscreveram o documento. Da mesma forma, líderes religiosos não católicos estão ansiosos para discutir a encíclica, que se tornará um tema de diálogo ecumênico e inter-religioso.
Aqui apresento um guia de leitura com perguntas para na abordagem da encíclica. Devido à riqueza de conteúdo, eu gostaria de sugerir que, para a leitura e discussão, considere-se um capítulo de cada vez. Há muitas perguntas. Usem aquelas que acharem úteis; não se sintam obrigados a responder a todas elas.
UMA INTRODUÇÃO
O Papa Francisco começa a encíclica resumindo sua apresentação e citando papas anteriores e outros líderes religiosos que falaram sobre o meio ambiente. Ele diz que a Irmã Terra “clama contra o mal que lhe provocamos por causa do uso irresponsável e do abuso dos bens que Deus nela colocou. Crescemos a pensar que éramos seus proprietários e dominadores, autorizados a saqueá-la”.
Questões:
1.- Onde você vê o mal infligido à Irmã Terra (Parágrafo 2)?
2.- Por que acha que poucas pessoas sabem que Paulo VI, João Paulo II e Bento XVI falaram abertamente sobre questões ambientais (4-6)?
3.- São Francisco de Assis é chamado de santo padroeiro do meio ambiente. O que o faz interessante neste aspecto (10-12)?
4.- O Papa Francisco conclui a sua introdução com um apelo (13-16). Qual a sua resposta?
CAPÍTULO 1: O que está acontecendo com a nossa casa comum
O Papa Francisco crê firmemente na necessidade de se reunir os fatos a fim de que se compreenda um problema. O Capítulo 1 apresenta o consenso científico sobre as mudanças climáticas, juntamente com uma descrição de outras ameaças ao meio ambiente, incluindo as ameaças ao abastecimento de água e à biodiversidade. Ele também analisa a forma como a degradação ambiental afeta a vida humana e a sociedade. Finalmente, ele escreve sobre adesigualdade global da crise ambiental.
Questões:
1.- Como a poluição tem afetado você ou sua família?
2.- O que o papa quer dizer por “cultura do descarte” (22)? Você concorda com ele? Por quê?
3.- O que o papa quer dizer quando afirma: “O clima é um bem comum” (23)?
4.- Quais as evidências de que as mudanças climáticas estão acontecendo e que são causadas pela atividade humana (23)? Quais serão os seus efeitos?
5.- O papa diz que “o acesso à água potável e segura é um direito humano essencial, fundamental e universal”, embora muitos pobres ainda não tenham acesso a ela (27-31). Por que isso acontece? O que pode ser feito?
6.- Por que o papa acha que a biodiversidade é importante (32-42)? Quais são as ameaças à biodiversidade?
7.- Quais são os efeitos da degradação ambiental, dos atuais modelos de desenvolvimento e da cultura do desperdício na vida das pessoas (43-47)?
8.- Por que o papa acredita que nós “não podemos enfrentar adequadamente a degradação ambiental, se não prestarmos atenção às causas que têm a ver com a degradação humana e social” (48)?
9.- Por que o papa acha que simplesmente reduzir os índices de natalidade dos pobres não é uma resposta justa nem adequada ao problema da pobreza ou à degradação ambiental (50)?
10.- “Há uma verdadeira ‘dívida ecológica’, particularmente entre o Norte e o Sul”, escreve o papa (51). O que ele quer dizer?
11.- Por que o papa acha que a resposta à crise ambiental tem sido fraca (53)?
CAPÍTULO 2: O Evangelho da criação
O papa sustenta que convicções religiosas podem motivar os cristãos a cuidarem da natureza e dos mais vulneráveis entre seus irmãos e irmãs. Ele começa com o relato bíblico da criação e, em seguida, medita sobre o mistério do universo, que ele considera uma revelação contínua do divino. “Tudo está relacionado, e todos nós, seres humanos, caminhamos juntos como irmãos e irmãs numa peregrinação maravilhosa, entrelaçados pelo amor que Deus tem a cada uma das suas criaturas e que nos une também, com terna afeição, ao irmão sol, à irmã lua, ao irmão rio e à mãe terra”. E conclui: “A terra é, essencialmente, uma herança comum, cujos frutos devem beneficiar a todos”.
Questões:
1.- Segundo o Papa Francisco, a Bíblia ensina que a harmonia entre o criador, a humanidade e a criação foi destruída por termos pretendido “ocupar o lugar de Deus, recusando reconhecer-nos como criaturas limitadas” (66). O que quer dizer “pretender ocupar o lugar de Deus”?
2.- Como Francisco interpreta Gênesis 1,28, que concede à espécie humana domínio sobre a terra (67)?
3.- Como Francisco usa a Bíblia para sustentar a sua visão de que a dádiva da terra com os seus frutos pertence a todos (71)?
4.- Ao refletir sobre o mistério do universo, o que Francisco quer dizer ao escrever que a “criação pertence à ordem do amor” (77)?
5.- Qual o nosso papel “neste universo, composto por sistemas abertos que entram em comunicação” onde “podemos descobrir inumeráveis formas de relação e participação” (79)?
6.- Francisco diz: “De certa maneira, quis [Deus] limitar-Se a Si mesmo, criando um mundo necessitado de desenvolvimento, onde muitas coisas que consideramos males, perigos ou fontes de sofrimento, na realidade fazem parte das dores de parto que nos estimulam a colaborar com o Criador” (80). Como você entende isso?
7.- Se o fim último das outras criaturas não deve ser encontrada em nós, como nós e as demais criaturas se encaixam nos planos de Deus (83)?
8.- Junto da revelação contida nas Escrituras, “há uma manifestação divina no despontar do sol e no cair da noite” (85). Como você tem vivenciado Deus na criação?
9.- Qual a sua reação ao hino de São Francisco de Assis (87)?
10.- “A tradição cristã nunca reconheceu como absoluto ou intocável o direito à propriedade privada, e salientou a função social de qualquer forma de propriedade privada” (93). Quando o direito à propriedade privada pode estar subordinado ao bem comum?
11.- Qual foi a atitude de Jesus para com a criação (96-100)?
CAPÍTULO 3: As origens humanas da crise ecológica
Embora a ciência e tecnologia “[podem] produzir coisas realmente valiosas para melhorar a qualidade de vida do ser humano”, elas também têm dado “àqueles que detêm o conhecimento e sobretudo o poder econômico […] um domínio impressionante sobre o conjunto do gênero humano e do mundo inteiro”. Francisco diz que estamos fascinados pelo paradigma tecnocrático, que promete crescimento ilimitado. Mas esse paradigma “supõe a mentira da disponibilidade infinita dos bens do planeta, que leva a ‘espremê-lo’ até ao limite e para além do mesmo”. Os que defendem esse paradigma “[parecem] não preocupar-se com o justo nível da produção, uma melhor distribuição da riqueza, um cuidado responsável do meio ambiente ou os direitos das gerações futuras. Com os seus comportamentos, afirmam que é suficiente o objetivo da maximização dos ganhos”.
Questões:
1.- Qual a atitude de Francisco para com a tecnologia? O que ele quer dizer por paradigma tecnocrático (101, 106-114)?
2.- Como Francisco sustenta que “os produtos da técnica não são neutros” (107, 114), que o “paradigma tecnocrático tende a exercer o seu domínio também sobre a economia e a política” (109)?
3.- Francisco diz: “[somos demasiadamente lentos em criar] instituições econômicas e programas sociais que permitam aos mais pobres terem regularmente acesso aos recursos básicos” (109). O que ele quer dizer aqui? Por que isso acontece?
4.- Francisco afirma que “o mercado, por si mesmo, não garante o desenvolvimento humano integral nem a inclusão social” (109). Por que ele diz isso? Você concorda?
5.- Francisco sustenta: “Buscar apenas um remédio técnico para cada problema ambiental que aparece, é isolar coisas que, na realidade, estão interligadas e esconder os problemas verdadeiros e mais profundos do sistema mundial” (111). Quais são os verdadeiros e mais profundos problemas do sistema global que Francisco tem em mente?
6.- Francisco convida a um olhar ampliado (112), a uma “corajosa revolução cultural” (114). Como seria isso na realidade?
7.- O que Francisco quer dizer por “antropocentrismo moderno” (115)?
8.- Para Francisco, “a crise ecológica é uma expressão ou uma manifestação externa da crise ética, cultural e espiritual da modernidade” (119). O que ele quer dizer por “relativismo prático” (122) e “cultura do relativismo” (123)?
9.- Por que Francisco sustenta que qualquer abordagem da ecologia integral deve também defender o trabalho, o emprego (124)?
10.- O que Francisco vê como aspectos positivos e negativos das tecnologias biológicas? (130-136)?
CAPÍTULO 4: Ecologia integral
Reconhecer as razões pelas quais uma determinada região está poluída exige uma análise do funcionamento da sociedade, da sua economia, do seu comportamento, das suas maneiras de entender a realidade. Não há duas crises separadas: uma ambiental e outra social; mas uma única e complexa crise socioambiental. As diretrizes para a solução requerem uma abordagem integral para combater a pobreza, devolver a dignidade aos excluídos e, simultaneamente, cuidar da natureza.
Questões:
1.- Por que Francisco defende que “não há duas crises separadas: uma ambiental e outra social; mas uma única e complexa crise socioambiental” (139)?
2.- O que significa ter uma “abordagem integral para combater a pobreza, devolver a dignidade aos excluídos e, simultaneamente, cuidar da natureza” (139)?
3.- Por que Francisco acha importante compreendermos os ecossistemas e a nossa relação com eles (140)?
4.- Por que “torna-se atual a necessidade imperiosa do humanismo, que faz apelo aos distintos saberes, incluindo o econômico, para uma visão mais integral e integradora” (141)?
5.- Francisco fala de uma “ecologia integral” que combina as ecologias ambiental (138-140), econômica (141), social (142) e cultural (134). O que essa expressão significa? Como funciona?
6.- Como os ambientes onde vivemos, os nossos locais de trabalho e o nosso bairro afetam a nossa qualidade de vida (147)?
7.- Como a pobreza, a superlotação, a falta de espaços abertos e as moradias precárias afetam os pobres (149)? Por que estas questões são também ambientais?
8.- O que Francisco quer dizer por “o bem comum” (156)?
9.- Quais as consequências de enxergar a terra como uma dádiva que recebemos livremente e que devemos compartilhar com os outros, uma dádiva que também pertence àqueles que virão depois de nós (159)?
10.- “Com que finalidade passamos por este mundo? Para que viemos a esta vida? Para que trabalhamos e lutamos? Que necessidade tem de nós esta terra?” (160)
11.- O que Francisco quer dizer com “as previsões catastróficas já não se podem olhar com desprezo e ironia” (161)?
12.- O que ele quer dizer quando afirma: “uma deterioração ética e cultural, que acompanha a deterioração ecológica” (162)?
CAPÍTULO 5: Linhas de abordagem e ação
O que devemos fazer? Francisco convida para um diálogo sobre política ambiental nas comunidades internacionais, nacionais e locais. Este diálogo deve incluir a tomada de decisões transparente de modo que a política esteja a serviço da realização humana – e não apenas dos interesses econômicos. Envolve também o diálogo entre as religiões e a ciência, trabalhando juntas para o bem comum.
Questões:
1.- A palavra “diálogo” é repetida ao longo de todo este capítulo. O que isso significa e por que Francisco acha o diálogo importante?
2.- Francisco fala da necessidade de um consenso global no confronto dos problemas. Por que este consenso é necessário? Como alcançá-lo?
3.- Por que ele acha que o “período pós-industrial talvez fique [lembrado] como [um dos] mais irresponsáveis da história” (165)?
4.- O que Francisco considera como sendo um sucesso ou falhas da resposta global às questões ambientais (166-169)?
5.- A quais estratégias internacionais Francisco se opõe na resposta à crise ambiental (170-171), e quais ele apoia (171-173)?
6.- Francisco sustenta: “A lógica que dificulta a tomada de decisões drásticas para inverter a tendência ao aquecimento global é a mesma que não permite cumprir o objetivo de erradicar a pobreza” (175). Que lógica é esta?
7.- “Perante a possibilidade duma utilização irresponsável das capacidades humanas”, afirma Francisco, “são funções inadiáveis de cada Estado planificar, coordenar, vigiar e sancionar dentro do respectivo território” (177). O que isso significa para o nosso país?
8.- “A Igreja não pretende definir as questões científicas nem substituir-se à política”, diz Francisco. “Mas convido a um debate honesto e transparente, para que as necessidades particulares ou as ideologias não lesem o bem comum” (188). Qual o papal apropriado da Igreja nas questões políticas, econômicas e ambientais?
9.- Francisco é crítico quanto a inúmeras práticas comerciais, não tem fé no mercado para salvaguardar o meio ambiente e vê um papel decisivo a cargo dos governos em regular a economia e proteger o meio ambiente. Como as pessoas em geral irão responder a isso? Como você responderá?
10.- O que Francisco quer dizer quando afirma: “Precisamos ‘converter o modelo de desenvolvimento global’” (194)? O que há de errado com os atuais modelos? Como seriam estes novos modelos?
11.- Quais são os papéis separados da religião e da ciência, e como elas podem dialogar e trabalhar juntas (199-201)?
CAPÍTULO 6: Educação ecológica e espiritualidade
Precisamos mudar e desenvolver novas convicções, atitudes e formas de vida, incluindo uma nova forma (um novo estilo) de viver. Isso requer não apenas uma conversão individual, mas também redes comunitárias para resolver a complexa situação que o mundo, hoje, enfrenta. Essencial aqui é uma espiritualidade que possa nos motivar a uma preocupação mais apaixonada para com a proteção deste nosso mundo. A espiritualidade cristã propõe um crescimento e uma realização marcados pela moderação e pela capacidade de ser feliz com pouco. O amor, que transborda com pequenos gestos de carinho mútuo, também é civil e político, e faz-se sentir em toda ação que busca construir um mundo melhor.
Questões:
1.- Ao longo de toda esta encíclica, Francisco relaciona a preocupação pelos pobres com o meio ambiente. Por que ele faz isso?
2.- Francisco critica o estilo de vida consumista (204). Como seria um novo estilo de vida?
3.- Qual pode ser o impacto político e econômico de uma mudança generalizada nos estilos de vida (206)?
4.- O que Francisco vê como o papel da educação ambiental no objetivo de se conscientizar e mudar os hábitos?
5.- O que Francisco quer dizer por uma espiritualidade ecológica, e como ela pode nos motivar a uma paixão pelo cuidado do nosso mundo (216)?
6.- Segundo Francisco, não basta que cada um seja melhor para se remediar a situação extremamente complexa que enfrentamos hoje. Qual o papal das redes comunitárias? E dos governos?
7.- Quais as atitudes que fomentam um espírito de cuidado generoso (220-227)?
8.- Visto todos os problemas que enfrentamos, o que traz alegria e paz ao Papa Francisco (222-227)?
9.- O amor deve também ser civil e político, de acordo com Francisco. “O amor social impele-nos a pensar em grandes estratégias que detenham eficazmente a degradação ambiental e incentivem uma ‘cultura do cuidado’ que permeie toda a sociedade” (231). Como podemos encorajar o amor civil e político em nosso país?
10.- Francisco propõe que o mundo natural seja integral em nossas vidas sacramentais e espirituais (233-242). Como você vivencia estas coisas?
11.- Como esta encíclica mudará a sua vida?
in Instituto Humanitas Unisinos, 01 de julho de 2015.